A espiritualidade da canção está nos seus silêncios.

Se a música fosse apenas organizar notas e pausas, sons e silêncios, harmonizá-los, a espiritualidade da música estaria em cada silêncio. No silêncio de cada voz, de cada instrumento, nas pausas e suas distâncias.

 

Como na respiração, em dois movimentos, inspira para depois expirar. Isso, expirar, morrer, deixar de ser, acabar, vencer a data da validade. Expurgar-se... Se ao por o ar para dentro eu reconheço quem ele é, como disse o Salmista: "Todo ser que respira, louva!", ao mandar fora o gás carbônico eu me dissipo nesse conhecimento. Se inspirar é o processo para soar, expirar é o processo para silenciar-se, calar-se. Por isso o “cale-se diante dele toda a terra”.

 

Talvez, a teologia da canção estaria no que não se fala, no silêncio, nos sons que desisti, que omiti, nas escolhas que permitiram essa pausa, essa duração, na dissonância, quando tudo destoa e nada mais ressoa tão bem no ouvido quanto o esforço de distinguir um som de outro se apoiando no silêncio que os contrapõem.

 

Não é necessário abolir a canção, mas compreender que ela não é só o que ressoa.

A espiritualidade da canção está nos seus silêncios.

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